Ato na
Uerj marca lançamento de frente em defesa do ensino superior público
- 19/10/2017 20h23
- Rio de Janeiro
Léo
Rodrigues - Correspondente da Agência Brasil
Ato na
Uerj em defesa das universidades públicasTomaz Silva/Agência Brasil
Professores, estudantes e
representantes de movimentos sociais e de centrais sindicais realizaram hoje
(19), no Rio de Janeiro, um ato em defesa das universidades públicas do país. Eles
criticaram a falta de repasse de verbas para as instituições e o atraso de
salários. A manifestação ocorreu no campus Maracanã da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (Uerj).
Na ocasião, foi lançada a Frente
Nacional em Defesa das Instituições Públicas do Ensino Superior, composta por
diversas entidades como o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de
Ensino Superior (Andes), a Federação de Sindicatos de Trabalhadores em Educação
da Universidades Brasileiras (Fasubra) e a União Nacional dos Estudantes (UNE).
"É uma iniciativa que surgiu
em decorrência dos ataques que as universidade públicas estão sofrendo em todo
o país. Inicialmente, iríamos focar na defesa das universidades estaduais, mas
avaliamos que a situação preocupa todo o ensino superior. Vivemos um contexto
de pagamentos atrasados, promoções e progressões congeladas, aumento da
alíquota da contribuição previdenciária e imposição de carreiras prejudiciais
aos servidores", disse Eblin Farage, docente da Universidade Federal Fluminense
(UFF) e presidente do Andes.
Para o reitor da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, a aprovação da Emenda Constitucional
95, que limita os gastos públicos pelos próximos 20 anos, deixa uma
dúvida se em cinco ou sete anos haverá orçamento para manter as universidades.
"Um país sem universidade pública fica desguarnecido em sua alma criadora.
O que está acontecendo nas universidade estaduais do Rio de Janeiro é algo que
deveria fazer todo o país refletir. São instituições com os trabalhos
inviabilizados por falta de pagamento de salários e de contratos e, sobretudo,
por falta de políticas que indiquem um futuro". Leher esteve presente no
lançamento da frente representando a Associação Nacional dos Dirigentes das
Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).
O campus da Uerj foi escolhido
como local do ato devido à situação preocupante da instituição. Docentes
deflagraram greve por tempo indeterminado no dia 3 de outubro e alegam que
estão novamente com três meses de salários atrasados. O décimo terceiro salário
de 2016 também não foi pago e há pendências nas bolsas de pesquisas de
mestrandos e doutorandos. A situação já havia motivado uma paralisação em agosto.
De acordo com Guilherme Vargues,
professor da Uerj e diretor da Associação dos Docentes da UERJ (Asduerj), esta
é a maior crise da história da instituição. "Os docentes queriam estar na
sala de aula com seus alunos, mas infelizmente temos esse cenário lamentável e
estamos aqui nos mobilizando. O prejuízo é para toda a sociedade que usufrua da
Uerj seja como docente, como aluno, como público dos projetos de pesquisa e
extensão produzidos aqui."
"Estão tentando jogar a
população contra os professores, dizendo que nossa remuneração é alta e pagando
somente os menores salários. Mas a gente sabe que os salários altos estão nos
cargos comissionados do governo e estes estão rigorosamente em dia. Salários de
R$ 30 mil, de R$50 mil", destacou.
Vocação popular
Para o diretor da Asduerj, a Uerj
tem uma vocação popular, tendo sido a primeira universidade a criar
cursos noturnos, atendendo a anseio de trabalhadores, e sendo pioneira em
estabelecer um programa de cotas. "Nós tememos a privatização porque vemos
uma crise de desfinanciamento da educação. E quando o governo diz que somos caros,
que somos ineficientes, ele está polarizando com dois modelos de universidade.
Uma que produz pesquisa e conhecimentos para a população e uma vise somente ao
lucro e onde o aluno é simplesmente cliente. Aqui não temos clientes, temos
cidadãos", disse.
O estudante Bruno Correa,
estudante do terceiro período de história, conta que os estudantes também estão
em greve, decidida após assembleia. Ele também participa de uma ocupação no
restaurante universitário, o Bandejão, que se encontra desativado. Estudantes
dormem no imóvel desde o dia 26 de setembro e, com doações, estão produzindo
cerca de 200 pratos de refeição diariamente. No local, também ocorrem
atividades culturais e aulas públicas, com o apoio de docentes convidados.
"O que ocorre no Bandejão simboliza
todo o contexto da Uerj, de precarização. E a ocupação se mostrou um
instrumento eficiente. A reitoria vinha informado que não havia empresas
interessadas em administrar o Bandejão. Mas, após a nossa mobilização, nos
disseram que seria realizada uma licitação e já havia interessados. Fizemos uma
reunião há mais ou menos duas semanas e falaram que a reativação aconteceria em
40 dias. Estamos aguardando", disse o estudante.
A Agência Brasil não
conseguiu contato com a Uerj e com a Secretaria de Estado de Ciência,
Tecnologia e Desenvolvimento Social (Sectids), à qual a instituição é
vinculada. A Secretaria de Estado da Fazenda informou em nota que os docentes
da universidade que têm vencimento líquido de até R$ 6.161,00 já receberam o
salário de agosto. "O pagamento de agosto para os que têm remuneração
acima deste valor e o pagamento de setembro ainda estão em aberto e serão
feitos de acordo com a arrecadação tributária", acrescenta o texto.
Edição: Juliana
Andrade
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