“No meu colégio na
Índia, tudo é organizado pelos alunos”
Lucas Sato, de 16 anos, conta como é
estudar no Mahindra United World College (UWC) – colégio internacional que
reúne estudantes de vários países
Por Lucas Sato
Com a voz um pouco emocionada, chamei ao palco, pelo microfone, o
Secretário Geral da conferência. Ouvi a tudo que ele tinha a dizer sobre o quão
gratificante os últimos três dias tinham sido, e sorri e acenei em acordo
durante todo o seu discurso. Assim que ele acabou, uma salva de palmas
concluíram sete meses de trabalho duro.
Foi durante o final de semana dos dias 25, 26 e 27 de setembro que
aconteceu o UWCMC MUN: o Modelo de Nações Unidas do colégio. O evento, cujo
modelo tem se popularizado bastante no Brasil durante os últimos anos, consiste
em alunos de ensino médio adotarem o papel de delegações de diversos países
simulando discussões de órgãos da ONU. Espera-se que cada participante pesquise
bastante sobre as políticas do país que representa e que todos estejam prontos
para debater, com muita seriedade, temas complexos. Já havia participado de
conferências do tipo no Brasil, mas foi só aqui que tive a oportunidade de
vivenciar uma que, de fato, reúne delegações de todos os cantos do mundo, não
só de acordo com os crachás que cada um carregava, mas sim de acordo verdadeiramente
com os países de origem de cada um. Aqui também pude experimentar um papel
diferente, que nunca tinha desempenhado antes: o de Diretor de Logística,
cuidando das encomendas, do corpo de voluntários no evento, e do transporte e
hospedagem de todos os convidados.
Ao redor de todo o campus, constantemente há um número enorme de eventos
acontecendo, todos organizados inteiramente por alunos
Aqui no colégio, quase tudo é organizado inteiramente pelos próprios
alunos, e a conferência MUN não é exceção – o Secretário Geral que fez o
discurso de encerramento é um dos meus melhores amigos, e é com o Diretor Financeiro
da conferência que eu geralmente me junto para completar as listas de exercícios
de Química.
Desde fevereiro, quando se iniciaram os processos seletivos para o
conselho executivo, até setembro, foram sete meses de incessantes reuniões de
madrugada, trocas de e-mails e dores de cabeça. É sim trabalho duro, sério e de
alta responsabilidade, mas é justamente aí que acontece a maior parte do
aprendizado aqui: no contato real com deveres e objetivos concretos, que brotam
do nosso próprio interesse. O resultado sempre vale a pena, e é impossível não
se sentir realizado ao final de cada evento, seja uma série de palestras, uma
conferência intercolegial, uma competição esportiva… As possibilidades são
inúmeras, e aqui acontece de tudo, vindo sempre das mãos dos próprios alunos.
Ao redor de todo o campus, constantemente há um número enorme de eventos
acontecendo, todos organizados inteiramente por alunos que são completamente
apaixonados por tudo que fazem. Nessas horas o coração sempre se divide entre o
acadêmico e os projetos pessoais, mas é os alunos daqui são acostumados com
esse conflito. É verdade que, ao final do dia, não conseguimos de fato
resolver o problema do desarmamento nuclear no Oriente Médio, ou achar uma
direção concreta e positiva para atingir os Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio, mas não há dúvida de que tudo que fazemos aqui é bem real e carrega
sempre uma dose imensa de paixão e comprometimento. O desejo de aprender mais e
se desafiar está sempre presente em todos os cantos do campus.
Sobre o autor – O paulistano Lucas Sato teve
uma educação primária baseada em muita história em quadrinhos. Assim, aos seis
anos tomou gosto pelas letras e começou a escrever por hobby. Costuma brincar
que é “astrônomo de quintal” e “filósofo de telhado”, com uma lista de
interesses que vai de política a jardinagem. Dando aulas de inglês a crianças
carentes, descobriu na Educação uma paixão. Hoje, cursa o ensino médio na
Índia, no Mahindra United World College (UWC) – um concorridíssmo colégio
internacional que reúne estudantes de vários países e tem como
missão promover a paz entre os povos.
*Foto: Lucas (o 1º à esquerda, no alto)
com seus colegas do Mahindra United World College (UWC)
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